É muito interessante ver as mais diferentes reações ao meu último post, em que declarei sermos uma empresa Happiness Centric e mostrei o framework que utilizamos para promover a felicidade na Superplayer & Co. Fui elogiado por muitas pessoas e também criticados por outras. O argumento dos críticos normalmente segue a linha de que uma empresa deveria estar focada em gerar resultado financeiro e valor para os acionistas. O mais interessante de tudo é que eu concordo com esta visão. Neste post vou tentar explicar porque buscar a felicidade e gerar valor para os acionistas são questões intimamente relacionadas. Mais do que isso, felicidade e sucesso financeiro são duas coisas que se retroalimentam, gerando um ciclo virtuoso de mais felicidade e mais sucesso financeiro.
PS: Sei que muitos “gurus” sem embasamento científico nenhum afirmam este tipo de coisa, portanto, para passar bem longe desta seara, me permitirei exagerar nas referências científicas neste post.
1. A Felicidade Precisa do Crescimento Financeiro
Algumas pessoas entendem felicidade apenas como diversão. Nosso entendimento de felicidade na Superplayer & Co está muito mais próximo ao conceito de plenitude. Conforme apresentado em nosso framework de felicidade, um dos quatro pontos fundamentais para um colaborador ser feliz em sua empresa é o Senso de Progresso. Isto significa que ele só será feliz se estiver aprendendo coisas novas, sendo reconhecido e recompensado pelo seu trabalho. Ora, isto só é possível se a empresa estiver crescendo. Tanto para manter-se ganhando desafios maiores, que estimulem seu desenvolvimento, quanto para ser reconhecido e ter um aumento de remuneração, é preciso que haja espaço para isto. Por isso digo que a felicidade sustentável em um ambiente de trabalho precisa do resultado financeiro como combustível.
2. A Felicidade Alimenta o Resultado Financeiro
Assim como a felicidade sustentável só é possível com o sucesso financeiro da empresa, ela também é combustível para o sucesso. Há uma ampla gama de experimentos que comprovam correlações entre os níveis de felicidade dos colaboradores e os mais diversos indicadores de performance da organização, inclusive alguns que indicam relações de causalidade entre estas duas grandezas. Primeiramente, vale a pena ressaltar que “felicidade” é um conceito bastante amplo e pode ter significados divergentes nas visões dos pesquisadores. Os artigos mencionados abaixo mensuram os níveis de felicidade no trabalho a partir de diversos construtos detalhadamente definidos, tais como: satisfação com o trabalho, comprometimento com o trabalho, engajamento com o trabalho, flow e motivação intrínseca para o trabalho, afeto com o trabalho, entre outros. Abaixo apresento algumas das constatações destes estudos.
Impactos da Felicidade no nível da individual:
- O aumento dos níveis de satisfação com o trabalho e comprometimento com o trabalho reduzem:
- turnover de colaboradores (Griffeth et al. 2000; Meyer et al. 2002);
- níveis de absenteísmo (Hackett 1989; Mathieu and Zajac 1990), e
- trabalho contra-producente (Dalal 2005)
- O aumento dos níveis de satisfação com trabalho e comprometimento com o trabalho aumentam:
- a civilidade organizacional (LePine et al. 2002), e com isso a capacidade de colaboração ou de a disputa entre colaboradores resultar no que é de fato o melhor para a empresa. Este para mim é um dos pontos mais importantes.
- Satisfação com o trabalho e comprometimento com o trabalho também são preditores fortes de uma série de critérios compostos de efetividade individual dos colaboradores tais como: correlações positivas com o desempenho individual em tarefas-chaves, performance contextual, e correlações negativas com atrasos, abstenteísmo e turn-over (Harrison etal. 2006)
Impactos da Felicidade no nível organizacional e coletivo:
Afeto com o trabalho positivo tem correlação positiva com a receptividade dos colaboradores para mudanças (Judge et al. 1999);
- Satisfação dos colaboradores é um fator preditivo da satisfação de clientes e da percepção de qualidade de serviço pelos clientes (Brown and Lam 2008);
- Há uma relação de causalidade entre satisfação com o trabalho e lucratividade, os quais se mostraram mais fortes nesta ordem do que em um direção causal inversa (Koys, 2001);
- Em empresas abertas em bolsas, há uma relação de causalidade entre satisfação com o trabalho e retorno sobre ativo e lucro por ação. Este estudo também aponta uma relação causal inversa igualmente forte (Schneider et al. 2003). Eu pessoalmente entendo que o fato da relação de causalidade existir nas duas direções só fortalece a tese se que a felicidade e o sucesso se retroalimentam em um ciclo virtuoso.
Mesmo em seu construto mais efêmero e hedônico, como o sentimento de sensações positivas ou prazerosas ao longo do dia tem o poder de melhorar aspectos da performance individual e do time:
- O estado de espírito positivo em um dia está associado com:
- Aumento da criatividade e pro-atividade do colaborador no mesmo dia e prediz a criatividade e pro-atividade do dia seguinte (Amabile et al. 2005; Fritz and Sonnentag 2009);
- Redução de conflitos interpessoais e aumento qualidade colaborativa das negociações internas (Baron et al. 1990).
- Mesmo apenas alguns pequenos momentos experimentando sensações positivas dentro do dia podem levar a:
- o aumento da persistência, motivação e desempenho em tarefas (Erez and Isen 2002);
- melhoria de como os colaboradores avaliam aspectos relacionados à empresa, como satisfação com o trabalho ou avaliação de uma determinada tarefa (Brief et al. 1995; Kraiger et al. 1989).
Em resumo, aumentar a felicidade do seu time levará a maior retenção de pessoal, indivíduos mais eficazes e determinados em suas tarefas, times mais abertos e colaborativos, e, muito provavelmente, isto levará sua empresa a ter resultados financeiros melhores, como demonstrado por Koys, 2001. Por sua vez, a sensação positiva de se atingir as metas, e as oportunidades de crescimento em termos de desafios e remuneração para os colaboradores, oriundas do próprio crescimento da empresa, aumentam os níveis de felicidade o que tende, iterativamente, a levar a companhia a resultados ainda melhores. Como observado por Schneider et al. 2003, a relação de causalidade acontece em ambos os sentidos, e este é o ciclo virtuoso de Felicidade <> Sucesso ao qual me refiro.
É fundamental quebrarmos o estigma de que a felicidade dos colaboradores está ligado a: menos trabalho, menos pressão, mais dinheiro, mais diversão e cerveja gelada no final do dia. Ou seja, elementos associados a redução da performance de uma empresa. Isto não é felicidade, é férias! E quem aguenta férias eternas? Ainda que todos estes itens sejam desejados em certa medida, as pessoas precisam de objetivos maiores para serem realmente felizes. Por isso, a maior parte dos executivos e empreendedores de alto nível entram em depressão ao se aposentarem, caso não encontrem outro propósito em suas vidas.
Minha crença é que, quando os líderes empresariais entenderem o que realmente faz as pessoas felizes, eles entenderão que Felicidade e Resultado Financeiro estão muito próximos do que acreditavam.
Gustavo Goldschmidt,
CEO da Superplayer & Co