Estamos chegando no dia 02 de Abril, o Dia Mundial da Conscientização do Autismo. Especialmente para essa data, conversamos com Tiago Abreu, um dos fundadores e integrantes do podcast Introvertendo, um podcast sobre autismo feito por autistas.

Introvertendo faz parte da Network, nossa rede de podcasts parceiros e vem ganhando destaque nacional não apenas pelo seu tema importante mas também pela qualidade com a qual o conteúdo é produzido. Foi o primeiro podcast do país sobre o tópico e não apenas aborda o tema do autismo, como é produzido por 10 autistas, trazendo uma visão em 1a pessoa sobre o assunto.
Mesmo estando na mídia através de conteúdos contemporâneos como a série Atypical, por exemplo, ainda existe muitas dúvidas sobre o que é o autismo realmente. Buscamos tirar algumas dessas dúvidas com Tiago na entrevista a seguir, mas sugerimos também que logo após ler a entrevista você visite www.conteudo.superplayer.company/introvertendo para ouvir o podcast na sua plataforma preferida.

De onde veio o ímpeto de criar um podcasts sobre esse tema?
Eu era um fã da mídia podcast muito antes do diagnóstico de autismo. Desde 2013 eu queria ter meu próprio podcast sobre música, mas como todo programa no país era no formato bate-papo, eu sequer imaginava fazer sozinho. Em 2014, até convidei uns amigos, mas eles não queriam e diziam: “Quem ouve podcast? Melhor um canal no YouTube”.
Então veio o diagnóstico de autismo no início de 2015. Fui em várias instâncias da universidade atrás de outras pessoas com o mesmo diagnóstico, mas não consegui nenhum retorno significativo. Até que, em abril de 2016, recebi uma mensagem da Tatiana, uma psicóloga da UFG. Foi a partir do encontro que ela fez entre eu e várias pessoas ali que tudo começou.
Conheci primeiro o Otavio, semanas depois o Michael apareceu. E eu, que já tinha trocado uns emails com o Marcos e o via andando pelo campus, acabei esbarrando pessoalmente com ele um dia e, dias depois, consegui levá-lo para o grupo também. Como nos sentíamos bem à vontade entre nós, conseguimos construir uma interação muito boa.
Meses depois conheci o Luca Nolasco, que era um amante de podcasts como eu e que coincidentemente, pouco tempo depois, foi diagnosticado com autismo. Apresentei ele ao pessoal e lancei a ideia concretamente ainda em 2017. Levou uns meses pra convencer e fazer, mas a paixão por podcasts e a minha própria formação, como jornalista, incentivaram tudo.
Qual a importância desse podcast primeiramente para vocês, que o fazem?
Nós queríamos que o podcast soasse exatamente como eram nossas conversas dentro do grupo terapêutico da UFG. Era algo tão natural que, frequentemente, a psicóloga tinha dificuldade para voltar às questões de saúde mental… constantemente falávamos de tudo. Era um encontro semanal fundamental para a nossa permanência dentro da universidade.
E, claro, a interação em grupo era muito diferente dos outros espaços sociais que, para muitos de nós, eram desagradáveis. Nós sabíamos os efeitos positivos de estarmos juntos e conversamos juntos sobre as mesmas dificuldades, então intuitivamente esse senso de comunidade era reforçado. E, com o tempo, vimos que nosso público autista também sente o mesmo ao ouvir.
O que o fato de fazer o podcast traz que apenas com a experiência de ser um autista você não tem? Existe uma visão diferenciada sobre o tema?
Existem dois aspectos. O primeiro, como você disse, é a visão pessoal de um autista, mas não só de um autista propriamente dito, mas um autista que chegou à vida adulta sem saber que era autista. O segundo aspecto é que são 10 autistas, com diferentes trajetórias e particularidades, interagindo juntos.
A nossa maior crença no potencial do Introvertendo era essa. Eu conhecia vários autistas brasileiros que tinham canal no YouTube falando sobre autismo, mas não vi no Brasil e em nenhum canal estrangeiro, fosse vídeo e podcast, que tivessem autistas conversando. A mídia podcast, antes de maio de 2018 (quando começamos), não tinha um podcast sequer de autismo em inglês, espanhol ou português que fosse recorrente e com volume de conteúdo. E nós queríamos dar essa sensação ao público de ser um podcast em que autistas interagem de verdade como parte da sociedade. O mais perto que tínhamos disso, e que foi uma leve influência para nós, foi o grupo de comédia Asperger’s Are Us.
Com a vivência própria e depois de tantos episódios de podcast, como você vê o autismo dentro da nossa sociedade? Existe um entendimento pleno sobre o que ele é?
Eu vejo que o autismo é ainda um ponto de interrogação. Até mesmo nos espaços ditos mais especializados sobre autismo, como congressos, eu percebo que há uma dificuldade em se entender que o autismo é um transtorno espectro. Há diferenças tão gigantes entre autistas que, em certos contextos, as pessoas não conseguem visualizar que se trata de um único transtorno, cujos níveis de suporte e apoio são variáveis. Mas vivemos tempos promissores.
Até meados de 2010, por exemplo, eu nem sabia o que era autismo. Hoje percebo que, nos últimos 5 anos, se discute autismo como nunca nos espaços midiáticos e até tivemos uma autista que foi destaque em 2019 e indicada ao Nobel da Paz, que é o caso da Greta Thunberg. Isso é graças a um acesso maior ao diagnóstico, de melhores serviços de saúde e os aspectos socioculturais do autismo, que levam o tema à esfera pública.
Você diria que o podcast também é para não-autistas?
Com certeza é também para não-autistas. Quando lançamos o primeiro episódio do podcast, cheguei a dizer que tínhamos feito o Introvertendo para que as pessoas pudessem ter alguns mitos quebrados sobre o autismo e também se envolver com as nossas formas atípicas de se discutir temas gerais, como música, tecnologia, comportamento e política.
No entanto, também percebemos que precisávamos seguir uma especialidade para garantir uma coesão e sobrevivência do nosso podcast. Independentemente de serem curiosos, autistas ou mães, as pessoas tinham um interesse muito maior pelas nossas conversas sobre o autismo. Então começamos, levemente, a focar. Posso dizer que, a partir do episódio 22 – um divisor de águas para nós –, começamos a entender que precisávamos ser esse espaço de conversas atípicas, mas também era fundamental sermos um lugar informativo sobre o autismo.
Por último, qual a importância de se ter um Dia Mundial da Conscientização sobre o Autismo?
Datas como esta são ferramentas fundamentais para criar uma sintonia na comunidade. Ao invés de travar lutas isoladas e descoordenadas, conseguimos focar em um período do ano em que todas as atenções se voltam para o autismo. Por meio dela ocorre congressos que sustentam o trabalho de muita gente, muitos recursos chegam para organizações que precisam, e reforçamos a importância de se discutir o autismo, um diagnóstico que permaneceu invisível por muitas décadas.
O Introvertendo é o principal podcast sobre a temática do autismo do Brasil. Ele foi criado em 2018 por 8 autistas com o objetivo de compartilhar um pouco dos desafios do dia-a-dia das pessoas que vivem no espectro. O programa já conta com mais de 90 episódios, que abordam temas como a inserção no mercado de trabalho, relacionamentos, bullying e até análise de séries famosas como The Good Doctor e Atypical.
O programa é apresentado por Tiago Abreu e conta com a participação de Willian Chimura, apresentador do canal de Youtube “Um Canal sobre Autismo” com mais de 90 mil inscritos. O Introvertendo foi também o primeiro podcast do mundo a disponibilizar seu conteúdo em Libras, para pessoas com deficiência auditiva. Desde 2020, o Introvertendo é produzido pela Superplayer & Co.
Público-alvo: Autistas, familiares de autistas e pessoas que trabalham com saúde mental
Novos episódios: sempre às sextas-feiras.
Top Performance: Top 3 Mental Health na Apple Podcasts
Avaliação: ⭐️⭐️⭐️⭐️⭐️ (5/5)